Notas da história

A história de uma imagem da exposição de Penna Prearo.

Estou em uma exposição do fotógrafo Penna Prearo. Sim, exposto em uma imagem. Na parede, imortalizado na minha juventude. A exposição traz uma ‘retrô-perspectiva’ de quase 50 anos de trabalho do profissional, sempre inquieto e inventivo.

Minha relação com Penna veio de uma época em que eu trabalhava no departamento de comunicação de uma grande empresa, em São Paulo. Uma época rica em amizades com diversos profissionais: jornalistas, fotógrafos, diagramadores, revisores. Profissionais de mercado, de grandes jornais e revistas, que faziam também publicações institucionais de empresas com a mesma qualidade.

E nós nos cruzamos. Do relacionamento profissional veio a convivência fraterna, visitas trocadas nas nossas casas; Cris, eu e Manuela criança, como no aniversário de 50 anos de Penna Prearo, festa com muitos amigos.

Em 2002, com minha mudança para o sul, um hiato de afastamento. Agravado pela minha tradicional misantropia, mas ainda com contatos e conversas via messenger e ICQ. Cris Fernandes, sempre mais atuante, a manter vivos os relacionamentos. Em 2016, recebemos dele o livro “Penna Prearo: Jornada do Alumbramento de Apollo”. O segundo livro que ganhamos de presente, o primeiro foi uma coletânea completa da obra de Fernando Pessoa, em “papel bíblia”.

A foto em questão, que me colocou na parede de uma exposição histórica, foi uma viagem que fizemos à Bolívia e ao Pantanal em 1998, bem antes das queimadas da necropolítica atual, em uma cobertura jornalística da construção de uma obra de infraestrutura: o Gasoduto Bolívia-Brasil.

Revelar o contexto de uma uma imagem em uma exposição com tantas obras é válido?  Ou todas as fotos já se bastam pelo seus sentimentos? Entre significados, metáforas e mensagens tão presentes na exposição de Penna, escolho vê-lo como fotojornalista, um dos maiores do país; um fotojornalista que também produz arte.

Nessa imagem, está a equipe. Eu no meio de Penna Prearo e Fernando Prearo, seu irmão e também grande amigo, e mais um dos componentes da equipe de produção, que minha senilidade não permite lembrar o nome.

Lembro bem que toda a jornada foi uma ode à amizade, com direito a muitas risadas, conversas sobre pautas, jornalismo, além de vôos e fotos de helicóptero, visitas à frente de trabalho da obra – lamacenta, úmida e calorenta -, campana na foto do tuiuiú que adornou a capa da revista. Na minha memória, o de sempre: um Penna apaixonado pelo seu trabalho, perfeccionista, sempre construindo a narrativa ideal e orientando o que deveria ter no texto, demonstrando sua experiência com uma generosidade que poucas vezes vi no mundo da comunicação.

Isso não seria novidade pra mim, pois nos trabalhos que fiz com Penna, como repórter ou produtor, ele sempre demonstrava essa dedicação. Às vezes, ligações à noite para contar que tinha recebido provas e narrar cada imagem e a forma como tinha sido produzida, a iluminação alcançada e as que deveriam ser escolhidas. “Você manda, Penna, faremos assim”, eu dizia em um misto de aprendiz e admirador.

Coincidentemente, essa mesma imagem me acompanhou em todos os escritórios, redações e estúdios em que trabalhei, sempre em uma estante. Outro presente do Penna após a aventura. A todos que viam, eu explicava pacientemente do que se tratava, falava de Penna Prearo e dos amigos. Faltava esse post, que hoje faço tomado de emoção.

Estou nessa história. Estamos na história. Na ‘retrô-perspectiva’ de um grande artista e profissional. Na parede. Todos olhando para o horizonte, a câmera milimetricamente preparada antes do disparo automático. Não perguntei para o Penna o motivo da escolha da foto para compor uma retrospectiva tão cheia de talento, amor e criatividade. Deixo os motivos para o mundo dos pensamentos e convicções, nem tudo precisa ser transformado em palavras. O importante é que estamos ali, eternizados, em absoluta comunhão.

Para quem estiver em São Paulo, visite a exposição:

Exposição ‘Fronteiras Movediças’, de Penna Prearo
Local: Casa da Imagem – Rua Roberto Simonsen, 136B – Sé
Visitação: de terça a domingo, das 11h às 15h, até 29 de novembro
Entrada gratuíta

No G1, leia uma entrevista no Penna Prearo:
Aqui.

Por Manoel Fernandes Neto

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