Por Manoel Fernandes Neto, jornalista.
Publicado originalmente no site da Trip Intercâmbios
Sou um “pai coruja” e minha filha ficou quase 3 anos fora do país. Pensa nisso!
Em nenhum momento, tive dúvidas de que era assim que tinha que ser. Como eu poderia restringir os sonhos de alguém, uma jovem principalmente, por causa dos meus medos e inseguranças? Aquilo que pode ou não acontecer, onde ela poderá estar, quem ela vai ouvir ou não. Essas questões têm muito a ver com o invisível que criamos ao nosso redor, formado por nossos pensamentos, nem sempre saudáveis.
Longe de ser um guru de serenidade, pelo contrário, tenho cuidados de qualquer pai: não dormia enquanto ela não chegava, passava mil mensagens querendo saber onde ela estava. Sempre foi assim. De repente, ela me disse que partiria para outro país em um intercâmbio para adquirir fluência no inglês. Percebi, de imediato, que eu teria que exercitar meu desapego em relação a algo tão valioso – para todos os pais, aliás. Sim, ela deveria partir para terras distantes.
Quando comecei a fazer parte da equipe de conteúdo da Trip Intercâmbios, no fundo eu sabia que essa minha vivência com a viagem com Manuela poderia ser útil. Todas as coisas que aprendi, tudo que aconteceu, a distância vivida, o tempo que não passa, o levantar no meio da noite, mas também a certeza que tudo vai dar certo. Escrevi uma dezena de crônicas para distrair a saudade, “Cartas à Manu”; também um e-book “Calhamaço de viagem”, falando da nossa história familiar e o amor de todos por ela. Um livro que ela baixou no Kindle e foi lido durante a viagem para Dublin.
Aliás, tudo se transformou em casa nos meses anteriores à viagem, milhões de sentimentos e reencontros com emoções represadas de toda a família. No dia da partida – sim, foi um dia mais longo, as últimas 24 horas sentidas, minuto a minuto – com tudo dando certo, malas arrumadas, documentos, detalhes, eu, a mãe e a irmã, sempre como aliadas, oferecendo conselhos e lembretes. Ainda hoje me emociono com esses momentos.
O embarque, os abraços e choro nosso e de amigos; a ida pelo corredor do embarque, um aceno, o silêncio da mente. A partir desse momento, eu era a pessoa mais feliz do mundo, do universo, uma sensação de plenitude, como se a unidade entre pai e filha tivesse se multiplicado e essas partículas fossem espalhadas pelo mundo.
A sensação é única e isso deve ser dividido com outros pais de filhos que decidam viver por um período fora do país. Incentivem, orientem, ajudem no que for possível. Sejam aliados. Motivem, porque somente assim estaremos completos em relação a um dos nossos propósitos que é viver e deixar viver em em relação ao próximo.
Ver o filho buscar seu próprio destino é a maior de nossas conquistas.
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