• Notas da história

    Raízes que nos mantém despertos

    Na arte, meu avô, Manoel Fernandes, português de Freguesia de Soajo, Concelho de Arcos de Valdevez. Não o conheci pessoalmente. O que sei dele vem das histórias de meu pai, Manoel Fernandes Júnior, na mais autêntica tradição oral, que também exerço neste texto. São muitas histórias: ▶ Ele era impaciente, turrão, às vezes irascível, em uma época em que essas manifestações faziam parte da cultura de uma época e supostamente garantiam a sobrevivência e escondiam corações apaixonados. ▶ Ele levantava um saco de 60 quilos de farinha com os dentes, demonstrando que tinha resistência corporal e, com certeza, bons dentes. ▶ Possuía um “coração de ouro”, palavras de meu pai.…

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    A casa onde nasci

    Na casa da foto, eu nasci. Uma típica casa portuguesa, parecida com muitas da Província de Soajo, em Portugal, terra do meu avô, Manoel Fernandes, que construiu a casa com minha avó Isolina. Era um sobrado com telhado de quatro águas. Visto de frente, uma porta centralizada de quase três metros de altura, com uma janela alta de cada lado. Uma escada diagonal com pergolado vertical, que seguia toda a extensão da varanda descoberta. Do portão até a casa, aproximadamente 15 metros ocupados por canteiros de cravos e hortaliças. Nesta casa, passei minha infância — penso que até meus 12 anos. Explorei cada canto do quintal, subi em muros, escalei…

  • Notas da história

    Sobre memórias e papéis amassados

    Por Manoel Fernandes Neto | O que eu tenho são as minhas memórias, nada mais do que isso. 60 anos para eu vasculhar em todos os seus cantos, em seus escaninhos, prateleiras, embaixo dos panos, em vãos de escadas, dentro de panelas ou naqueles quartos que ainda estão fechados. Estou sempre a procurar algum ato, detalhe, palavra, atalhos que passaram despercebidos, alguma coisa que eu nunca mais falei; esquecimentos — momentâneos ou definitivos.

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    Lembranças do Dia do Radialista

    Sou informado, pela manhã, que hoje é Dia do Radialista. Memórias fluem. Formação, turma de jovens sonhadores, uma sala repleta de vozeirões, um curso tradicional em Santos. O tão sonhado registro profissional (foto) que, naquela época, era obrigatório para o exercício da função. Era o último ano na faculdade de jornalismo.   Em seguida, os primeiros estúdios, o cheiro de móveis novos e de equipamentos eletrônicos; o microfone que ampliava a voz do retorno no fone de ouvido. Programas gravados e ao vivo, entradas externas — muitas vezes feitas do orelhão —, temas diversos: cobertura de eleições, notícias de bairro, “vai pra geral”, plantões em distritos policiais.   Veio também…

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    Sobre o Tempo e Velhos Papéis

    São Paulo, 19 de junho de 1994 IRMÃ MEIRE, Remexo papéis velhos e me ocorre narrar-te os amarelados pelo tempo e com rasuras da alma. São poemas e anotações. Textos e colisões. Pedaços de tempo esquecidos em guardanapos e naquele papel com borda laminada que vinha dentro do maço de Hollywood. Alguns cigarros eram feitos nesse papel. Às vezes não fumávamos e escrevíamos poemas neles. A minha geração não ficou muito longe daquela rebeldia escrita em livros de história: sexo, drogas e rock’n’roll. Quando ouço a Manuela chorar — com poucos meses — percebo como crescemos e nos agitamos por todos os lugares. Nem de motivos precisamos. Queremos o que…

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    Filho no intercâmbio: a maior de nossas conquistas.

    Por Manoel Fernandes Neto, jornalista. Publicado originalmente no site da Trip Intercâmbios Sou um “pai coruja” e minha filha ficou quase 3 anos fora do país. Pensa nisso! Em nenhum momento, tive dúvidas de que era assim que tinha que ser. Como eu poderia restringir os sonhos de alguém, uma jovem principalmente, por causa dos meus medos e inseguranças? Aquilo que pode ou não acontecer, onde ela poderá estar, quem ela vai ouvir ou não. Essas questões têm muito a ver com o invisível que criamos ao nosso redor, formado por nossos pensamentos, nem sempre saudáveis. Longe de ser um guru de serenidade, pelo contrário, tenho cuidados de qualquer pai: não dormia enquanto ela…

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    Os 14 anos da menina lua

    Aficionada pela lua, de domingo para segunda foi uma noite especial para ela. Alertou-me desde cedo sobre o eclipse. Esperei acordado o quanto o sono permitiu. Fiquei do lado dela nesse evento especial; ela garantiu que um novo só daqui a vários anos. Não importa, o que interessou mesmo foi participar daquele “momento mágico”, como me sugeriu Cris, a mãe. Quando ela retornou a esse mundo, eu já era “de lua”, como se diz. Humor inconstante, tolerância zero com determinadas situações. Ela chegou em 17 de maio de 2008, surpreendendo a todos. Renascimento, porque tudo aparentemente já estava feito. Família, valores, convicções. Todos nós nos reinventamos quando ela surgiu como…

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    Enredos em aberto

    Sempre tenho um sobressalto quando abro minhas caixas de memórias espalhadas pelos cantos, nos pés das estantes. Nos resgates de notas e vivências, estímulos para a emoção se exercitar em um par de lágrimas. O jornal em questão foi do dia 2 de maio de 1994, uma segunda-feira após a morte de Ayrton Senna, em um dos domingos a 300 km por hora, inesquecíveis para quem viveu. Mais que isso, minha filha Manuela tinha acabado de nascer na sexta anterior, 29 de abril. Tivemos um fim de semana bem triste e desalentador no hospital Santa Catarina, na capital paulista. E de uma felicidade única com a chegada da primeira filha.…

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    Fragmentos da jornada

    Neste dia, saímos para cortar o cabelo; eu tinha em torno dos 8 ou 9 anos, anos 1970. Sempre íamos juntos. Ele cortava, depois eu, com ele logo atrás orientando o barbeiro. Morávamos naquela casa lá no fundo, a varanda que aparece na foto. A bicicleta com certeza ganhou espaço na nossa história. Ele sempre teve bicicleta, esportivamente quando solteiro e depois para se locomover quando era possível. Eu estava sempre junto, naquela posição. O chamavam de Manecão. Eu, o Manequinho. Fizemos história juntos. Também trabalhamos juntos em vários projetos que ele implantou como mestre de obras. Fizemos história, conversando, rindo muito da vida e das situações, que são inúmeras…

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    Silenciar e estar presente

    Vivemos em um tempo em que o silêncio é necessário. O silêncio ativo deve dominar seu caminhar, trazer quietude e luz para cada ação. Redes sociais, Whatsapp, e-mail, ligações, todos buscam uma palavra a mais para expressar. É bem fácil conhecer algo de uma pessoa, penso; basta olhar o feed de suas redes sociais, o que ela pensa, o que ela é, o que ela gosta, a feição que ela escolheu para ser pública. Por isso penso no silêncio a cada postagem. Estar no mundo, tem sua própria dinâmica. Deve ser uma arte. Mas de onde você quer ser? Quais os rastros que você quer deixar? (MFN) (foto: unsplash Evgeni…